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domingo, 6 de outubro de 2024

Atentado à paisagem e ao património em Ponte de Lima - O Paço de Curutelo, Freixo, Ponte de Lima

Reproduzo, com a devida autorização, e subscrevo, a publicação do Grupo do Facebook "Repensando a Idade Média" de 05/10/2024, sobre o atentado ao património e paisagem que está a decorrer no Paço de Curutelo, freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, Ponte de Lima.

 

"Repensando a Idade Média"

 

PAÇO DE CURUTELO: UM ACTO DE VIOLÊNCIA SOBRE PATRIMÓNIO MEDIEVAL

O “Repensando a Idade Média” tem denunciado diversas lesões infligidas ao longo dos anos sobre os marcos materiais que nos restaram do período medieval em Portugal, e infelizmente teremos de o voltar a fazer a propósito do Paço de Curutelo, uma casa-torre medieval expandida com um novo paço em inícios do século XVI, situada no concelho de Ponte de Lima.

Estando em curso obras de conversão num hotel de 4 estrelas com o objectivo de atrair o turismo vinícola, tem-se observado uma total destruição da envolvente paisagística e de boa parte dos anexos do paço, ao completo arrepio de todo e qualquer princípio de preservação do Património, mas com aprovação das autoridades supostamente responsáveis pelo seu cuidado. Mais uma vez, em nome da preservação do Património e da sua rentabilização – e note-se a ironia de o novo hotel prever um museu -, acelera-se a sua destruição. É precisamente todo este processo que os nossos autores convidados abordam no texto de hoje, e a eles damos a palavra...

 

 

Falam por si estas imagens recentes da obra em curso no Paço de Curutelo (Freixo, Ponte de Lima) no seguimento da aquisição da propriedade pelo grupo hoteleiro Vila Galé.

Espécime emblemático de morada senhorial medieva e quinhentista do Entre-Douro-e-Minho, o solar foi desde o século XII sede da linhagem dos Curutelo, cuja acção sobre o território circunvizinho se documenta largamente nas Inquirições afonsinas e cuja gesta familiar se plasma expressivamente nos livros de linhagens trecentistas. O edificado tem por peça central uma casa forte de origens românicas, a que subsistem testemunhos raros duma cinta muralhada de configuração arredondada. Num momento de revitalização da família por ocasião da sua aliança aos Regos, linhagem ascendente entre os reinados de D. Fernando e D. João I, a torre foi reconfigurada segundo a feição que ainda hoje, grosso modo, preserva. Com a alienação da velha honra de Curutelo aos duques de Bragança, a habitação senhorial veio a ser engrandecida por uma residência paçã de feição horizontal, parcialmente assente sobre a velha cerca defensiva. Esta obra, de que é coeva toda a presente crenelação do conjunto, data-se seguramente por epígrafes e documentos como pertencendo à primeira metade do século XVI; o investimento na propriedade pelos duques de Bragança explica-se plausivelmente pela sua localização conveniente entre a sede do seu condado de Barcelos e o Couto da Correlhã, que tutelavam junto a Ponte de Lima.

A preservação do cerne da antiga honra medieva por via dum duradouro aforamento à descendência de João Rodrigues do Lago, aqui radicada desde 1532, contribuiu seguramente para conservar o precioso documento de toda uma territorialidade alargada, que confere ao domínio de Curutelo o estatuto de verdadeiro caso de estudo no domínio da cultura senhorial medieva e proto-moderna da região — uma paisagem cultural de pleno direito.

A despeito do regime de protecção vigente desde 1977 (Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977) e não obstante o imenso e amplamente reconhecido valor patrimonial que este conjunto reveste — quer como monumento histórico-arquitectónico, quer como raro testemunho paisagístico dum ecossistema agrário de raízes medievas — o que se verifica hoje é uma total descaracterização do edificado, da sua envolvência e da sua relação com o meio. Além da inexplicável aposição de construção dissonante e em grande escala ao núcleo monumental, verificam-se obliterações substanciais ao nível da malha anciliar do paço, nomeadamente da sua infraestrutura agrícola configurada entre os séculos XVI e XVIII, e transformações violentas da secular modulação da paisagem imediatamente envolvente. O espírito da intervenção que agora se perfila é dum completo desrespeito por qualquer noção integral do património representado pelo Paço de Curutelo, entendido na sua dignidade, na sua autonomia e na organicidade da sua implantação no território.

É de importância capital aclarar e escrutinar os trâmites que levaram à sua aprovação.

Dada a celeridade dos trabalhos, o seu inusitado volume e a manifesta desconsideração tida para com o valor histórico do imóvel, impõem-se também questões prementes acerca do acompanhamento arqueológico prestado à obra, visto que esta terá seguramente transtornado testemunhos da ocupação medieval do sítio e da sua há muito suposta pré-ocupação castreja.

Nada do que concerne ao imenso valor patrimonial do Paço de Curutelo podia ser desconhecido dos promotores da obra, dado que o mesmo grupo encomendou a historiadores um dossier detalhado acerca da história familiar, evolução arquitectónica e significado contextual do conjunto. São estes, os dois primeiros subscritores do presente texto, os primeiros a denunciar o que entendem como uma grave violação do compromisso expresso pelo Grupo Vila Galé para com a devida valorização do monumento.

Além da necessária aprovação pelas entidades competentes, o processo de transformação de que estas fotografias testemunham foi acolhido e aprovado pela autarquia local — a Câmara Municipal de Ponte de Lima — que emitiu dois votos de interesse público municipal a favor do empreendimento. O pronunciamento acerca dos factos pelas referidas entidades é também merecido pelo público, e deve ser por ele exigido.

Se todo o sucedido em Curutelo é lamentável, e até irreversível, cumpre fazer todos os possíveis para converter o infortúnio num momento pedagógico, de reflexão alargada e de exercício de cidadania.

Subscritores:

Miguel Ayres de Campos Tovar, historiador

Gonçalo Vidal Palmeira, historiador

António Matos Reis, historiador

Teresa Andresen, arquitecta paisagista

João Gomes de Abreu e Lima, arquitecto

Álvaro Campelo, antropólogo

BIBLIOGRAFIA

GUERRA, Luís Figueiredo da — “Tôrres solarengas do Alto Minho”, in O Instituto, 4.ª série, vol. 1, 1925, pp. 415-465.

MATTOSO, José — Ricos-homens, infanções e cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII, 2ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1985.

PALMEIRA, Gonçalo; TOVAR, Miguel Ayres de Campos — “Gerações medievais do paço de Curutelo: dos Curutelos aos Viegas (séculos XII a XIV), in Actas do 6.º Congresso Internacional Casa Nobre: Um Património para o Futuro, 2024, pp. 307-325.

REIS, António Matos — “Itinerários de Ponte de Lima”, Ponte de Lima, s.n., 1973.

Idem — “Ponte de lima no tempo e no espaço”, Ponte de Lima, Município de Ponte de Lima, 2000.

SILVA, António Lambert Pereira da – Nobres casas de Portugal, Porto, Livraria Tavares Martins

 

Zona de Proteção imposta pelo PDM

 

 

 
 
(in:https://madre.com.pt/paco-do-curutelo-uma-joia-no-coracao-do-minho/)
 
Depois

 
Antes










Em SIPA/Monumentos.pt(as seguintes)






in: Guerra, Luís Figueiredo da - "Torres Solarengas do Alto Minho - ", in: «O Instituto», Vol. 72, nº4, 1925, pp 452-454.



in:  Azevedo, Carlos de - "Solares Portugueses, Livros Horizonte, Lisboa, 1969, p.133


in: Azeredo, Francisco de - "Casas Senhoriais Portuguesas", Braga, 1978,  Of. Gráficas da Livraria Cruz, p.97.

Mais info em:

 http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4109

 https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/ponte-de-lima-antes-havia-castelo-e-32447653

 PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE INTERESSE PÚBLICO DO PAÇO DO
CURUTÊLO, NA FREGUESIA DE FREIXO - https://www.cm-pontedelima.pt/cmpontedelima/uploads/document/file/2698/DOC_VII_AM_22_12_2018.pdf

REGULAMENTO DO PDM DE PONTE DE LIMA (Abril 2011) - https://www.cm-pontedelima.pt/cmpontedelima/uploads/document/file/2077/regulamento_alteracao_pdm_RERAE.pdf

Decreto Lei 129/77 de 29 de Setembro que classifica o Paço/Castelo de Curutelo como Imóvel de Interesse Público -  https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/decreto/129-278706

quinta-feira, 7 de março de 2019

Acerca do património quinhentista (e outro) de São Miguel do Outeiro, Tondela.

Acerca do património quinhentista (e outro) de São Miguel do Outeiro, Tondela.
                        
            A recente demolição de uma fachada que possuía uma janela manuelina, na Rua de Nossa Senhora da Conceição em São Miguel do Outeiro, Tondela, representou o desaparecimento de 25%, ou seja um quarto, dos conjuntos de janelas manuelinas que existiam no município de Tondela.
            O concelho de Tondela actual, fruto da união de vários antigos concelhos medievais, possui  uma longa história de ocupação humana. As condições edafoclimáticas, ideais para a agricultura e para a pastorícia, cedo atraíram o homem para o seu estabelecimento nesta região.
            Milhares de anos nos afastam desses primeiros povos pré-históricos que por aqui habitaram. Da herança que nos deixaram, residem ainda alguns vestígios espalhados um pouco por todo o concelho, desde exemplos de arte rupestre aos monumentos megalíticos funerários.
            Foram milhares de anos em que culturas diferentes foram sucessivamente ocupando o espaço, construindo novas habitações ou reconstruindo as antigas ao gosto da sua época e cultura,  aproveitando, em grande parte das vezes, os materiais das construções anteriores.
            Hoje, quando olhamos para trás, já praticamente nada resta das estruturas anteriores à Idade Moderna, principalmente no que se refere à arquitectura civil, nomeadamente a erudita.
            Tondela foi território onde abundaram famílias nobres desde muito cedo. No centro das pequenas honras e coutos foram erguidas as suas casas senhoriais. 
            No território que hoje ocupa o concelho de Tondela, identificam-se, documentalmente, 5 torres medievais, ou Domus fortis, das quais não resta uma pedra. O mesmo se pode dizer do Castelo de Besteiros, pré-nacional.
            Se percorrermos atentamente as ruas dos centros históricos das nossas aldeias - e são muitos - os raros traços mais antigos que conseguimos reconhecer nas fachadas de alguns edifícios, serão cronologicamente situáveis nos finais do Séc. XV, inícios do XVI.
            Na sua maioria trata-se de padieiras e ombreiras de portas e janelas, de granito geralmente de grão fino e cujas quinas foram chanfradas. 

 Quina chanfrada ou biselada em moldura de janela, em São Miguel do Outeiro

            Este tipo de tratamento das arestas, que já vem do estilo gótico, acompanhou, posteriormente, a evolução para o nosso estilo tardo-gótico o chamado "Manuelino".     
            Dos poucos registos do estilo manuelino em Tondela, os que se conhecem afastam-se esteticamente da exuberância que vamos encontrar nos grandes centros urbanos e caracterizam-se pela simplicidade das suas linhas e ausência total de motivos decorativos, aproximando-se mais da arte hispano-árabe.
            Na página virtual da Câmara Municipal de Tondela consta que os únicos exemplos de janelas manuelinas no concelho de Tondela são as três janelas maineladas da Casa de São José, em Parada de Gonta, que se afastam do que acabou de ser dito acerca do estilo característico dos lintéis manuelinos de Tondela, razão que se prende com o facto de estas janelas não serem originalmente da referida habitação, tendo sido trazidas do edifício original, situado na cidade de Viseu, que foi demolido, e posteriormente oferecidas ao poeta Tomás Ribeiro, proprietário da casa de São José em Parada de Gonta, onde as mandou aplicar e se encontram até hoje.

 Janelas manuelinas da Casa de São José, de Parada de Gonta

            Na verdade, os verdadeiros lintéis manuelinos originais de Tondela, de arcos conopiais, sem motivos decorativos, estavam presentes, que se conheça, em pelo menos três outros edifícios do concelho.
            Um está numa janela de uma fachada no pátio Norte do Paço de Molelos e acompanha-o uma porta com emolduramento de quina chanfrada da mesma época, conjunto que parece estar no seu sítio original, encontrando-se em bom estado de conservação.

Paço de Molelos

            O segundo edifício está em Sabugosa, contíguo ao edifício que funcionou como discoteca, no cruzamento da Av. Devaguinha com a Rua Luís Figueiredo. Tratam-se de duas padieiras com arcos conopiais, presentes nas duas portas de acesso exterior ao andar nobre do edifício, no qual se abrem três vãos de quina chanfrada ou biselada, contemporâneos das mesmas. É de referir que estas duas portas manuelinas têm um afastamento entre ombreiras que já não será o original, uma vez que os arcos das torças já não ligam com o biselado das ditas ombreiras, o que poderá ter várias explicações.

 





  O terceiro edifício já não existe. Ficava em São Miguel do Outeiro, no final da Rua de Nossa Senhora da Conceição e tratava-se de uma fachada em alvenaria de pedra que possuía duas janelas quinhentistas, uma, tal como nos exemplos anteriores, possuía uma padieira com arco conopial, de estilo manuelino e a outra era de quina chanfrada, da mesma época, ou poderia mesmo esconder um arco por trás da caixa de estore.


Janela 1

Janela 2


 Antiga edificação


Nova edificação      

       Pormenor do arco canopial visível.

             E assim vai desaparecendo o nosso património, peça a peça…
            Não podemos continuar a permitir que a nossa herança patrimonial desapareça assim, à vista de toda a gente, dia após dia, enquanto olhamos serenamente sem fazer nada…
            Se existe lugar neste concelho, onde subsiste o maior número de sinais da arquitectura quinhentista é o lugar de São Miguel do Outeiro, principalmente no que se refere à arquitectura civil, mas não só… 
            Na igreja de São Miguel do Outeiro temos o único túmulo manuelino do concelho, o carneiro armoriado de Pedro de Figueiredo que possui a única inscrição gótica original de todo o concelho de Tondela (sendo que existe outra na vila do Caramulo, mas foi para lá levada no século passado). Para além do túmulo manuelino, possui esta igreja um interessante conjunto de sepulturas brasonadas, também único dentro das fronteiras do município.
            Ainda nesta localidade temos a quinta de Carvalhiços que no seu conjunto ainda apresenta alguns traços arquitectónicos do final do Séc. XVI, sendo de salientar a padieira brasonada com inscrição datada de 1595.

 Padieira brasonada e epigrafada da Quinta de Carvalhiços

            Mas São Miguel do Outeiro tem muito mais do que isto… Existe em São Miguel do Outeiro uma rua que se distingue de todas as outras do concelho de Tondela. Trata-se da Rua de Nossa Senhora da Conceição e seu seguimento pela Rua do Cimo de Vila. Esta artéria principal de São Miguel do Outeiro alberga em si, e em pequenas ruelas que dela emanam, um conjunto habitacional deveras peculiar, quer pela antiguidade das suas habitações - traçando quase uma história da arquitectura portuguesa desde o Séc. XVI - quer pela sua diversidade arquitectónica na tipologia dos edifícios.
            Quem entra nesta rua, pela parte mais baixa junto ao rio, começa por se deparar com a antiga Casa da Câmara Municipal do antigo concelho de São Miguel do Outeiro e, em frente dela, como era normal, ergue-se o pelourinho, sinal máximo da autonomia concelhia. O conjunto de arquitectura politica, administrativa, judicial e prisional completa-se um pouco mais à frente, na mesma rua, com o edifício da antiga prisão daquele antigo município.
            Quanto a exemplos de arquitectura infra-estrutural, temos, na mesma rua, um pouco mais acima, um fontanário típico do regime do Estado Novo (1938).
            Também a arquitectura religiosa está bem presente nesta artéria. Sensivelmente a meio da mesma temos a pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, de 1649, com o seu precioso exemplar de relógio de sol no campanário, ainda em bom estado de conservação, e, no final da Rua do Cimo da Vila, a capela de São Pedro (Séc. XVI/XVII?). Saliente-se também a presença em todo este percurso de vários "nichos da paixão de Cristo" que tanto se prendem ao culto religioso da Via Sacra no período quaresmal.
            No que se refere à arquitectura civil, verdadeiro património a preservar nesta rua devido às suas características cronológicas e estilísticas únicas, salienta-se para além do grande grupo de casas (12) com as características quinhentistas que já referimos, existem também alguns bons exemplos de arquitectura "Chã" dos finais do Séc. XVI, inícios do XVII, de arquitectura solarenga maneirista, onde se salienta a Casa do Terreiro; da arquitectura civil popular (com a existência de habitações e barracões em pedra e tabique), entre muitos outros exemplos, como se verá no anexo de imagens que acompanha este texto.
            Já é tarde para salvar a anta do Tojal Mau, em Molelos, destruída recentemente pelo proprietário dos terrenos, ou para salvar a fachada manuelina de São Miguel do Outeiro. Mas não é tarde para proteger o que ainda existe, para não apagar a memória de tantos séculos de história, para deixar alguma coisa para os nossos filhos e netos poderem observar para além do virtual de um monitor ou papel de uma fotografia.
            É preciso acreditar na potencialidade do nosso património cultural e natural enquanto uma mais valia para as populações locais, sendo dos melhores pólos atractivos de turismo sustentável que temos para oferecer, e elemento fundamental, não só para a economia local e regional, mas também para a fixação de população, evitando a desertificação humana que tanto assola o concelho.
           

            Assim, e de acordo com o exposto, e como tentativa de tentar ajudar na solução do problema de uma forma construtiva, permitam-me a sugestão das seguintes medidas:
1 - Localizar urgentemente, negociar e adquirir as cantarias das janelas desaparecidas em São Miguel do Outeiro, com principal atenção à(s) janela(s) manuelina(s), de forma a poder a vir a expô-las futuramente no museu ou, ver ponto 3. 

2 - Proceder à identificação e classificação imediata de todas as fachadas com interesse histórico, na referida artéria de São Miguel do Outeiro (Rua de Nossa Senhora da Conceição e Rua do Cimo de Vila, não permitindo, desde já, qualquer demolição em património sinalizável como historicamente relevante.

3 - Aquisição do edifício em ruínas, que se encontra no largo do final da Rua de Nossa Senhora da Conceição, início da Rua do Cimo de Vila, casa que ainda possuí, no piso nobre, um emolduramento quinhentista na sacada que dá para o mesmo largo, e criação, no mesmo edifício, de um centro interpretativo da história de São Miguel do Outeiro, "Vila Renascentista", (e porque não da arquitectura civil de Tondela?), promovendo também a recuperação possível de toda a rua, como extensão do próprio centro interpretativo, através de material informativo junto das diferentes peças patrimoniais, mesmo das que ficam fora deste arruamento.

4 - Proceder à identificação e classificação imediacta de todas as estruturas com interesse histórico, em todo o concelho de Tondela, não permitindo, desde já, qualquer demolição em património sinalizável como historicamente relevante. (Aqui o recurso a protocolos com universidades, através da criação de estágios dentro das áreas do património, será uma boa forma de combater a falta de meios humanos e também de estimular a vinda de investigadores de fora, e assim promover a nossa História e os nossos monumentos). Posteriormente, proceder à identificação de todos os proprietários que têm, sob sua protecção, património classificado, de forma a se poder efectuar acções de sensibilização aos mesmos, dando-lhes a conhecer a importância do património que possuem e quais os seus direitos e obrigações em relação ao mesmo.

5 - O envolvimento de toda a comunidade escolar e educativa na defesa, mas principalmente na educação e sensibilização para o património dos nossos jovens, através de visitas de estudo aos diferentes sítios arqueológicos, de trabalhos temáticos sobre o património local, etc, etc…

6 - Assumir a verdadeira importância que o nosso património edificado pode ter no sector do turismo sustentável, olhando para o investimento na salvaguarda do mesmo como uma "mais valia" em termos de futuro e não um entrave ao desenvolvimento local.

7 - Porque é importante que quem venha passar férias ao nosso concelho tenha o que visitar durante toda a sua estadia, propomos a criação de roteiros históricos turísticos, temáticos, a serem impressos em papel, ou em app para smartphone, que possam levar os curiosos a percorrer o concelho em busca de tanta coisa. Parece-me que existe a possibilidade de criar bons roteiros temáticos, acompanhados de publicação impressa, para exemplos como:
A - Pré-história e Proto-História, arte, megalitismo, lagaretas, castros, etc. etc..
B - Arquitectura religiosa, alminhas, ermidas, capelas e igrejas.
C - Arquitectura civil popular e erudita, solares, casas nobres, casas de agricultor, etc...
D - Arquitectura vernacular e industrial, moinhos, canastros, eiras, fornos, etc..
E - Industria mineira, Feal, Molelinhos, etc…
F - Rota dos Antigos Concelhos, pelourinhos, casas de audiência, prisões, etc.
G - Rota do vinho, vinhas, adegas, lagares, alambiques, etc.
H - Artesanato, olarias, etc.
Estes entre alguns outros que poderão ser criados.

8 - Promoção de visitas de estudo organizadas com guia, por inscrição, pelos diversos roteiros criados no ponto anterior.

9 - Actualização e correcção dos dados sobre o património visitável do concelho, no site da Câmara Municipal de Tondela (http://www.cm-tondela.pt/).

10 - Criação e publicação da, já muito atrasada, Carta Arqueológica do Concelho de Tondela.
         
Anexo I - Património de interesse histórico nas ruas de Nossa Senhora da Conceição e do Cimo de Vila, em São Miguel do Outeiro e artérias secundárias.
A) Arquitectura civil quinhentista, caracterizada pela decoração mais simples e popular de todas, com os emolduramentos dos vãos com as quinas chanfradas ou boleadas, típicas do gótico português.

Casa 1 - Duas janelas de quina biselada, um cruciforme e uma pequena inscrição.







 

Casa 2 - Uma porta, uma janela e uma sacada de quinas chanfradas ou biseladas.
 
   






Casa 3 - Uma janela de quina chanfrada ou biselada.
 





Casa 4 - (destruída) - Já só restava uma fachada onde constava uma janela manuelina, uma janela de quina chanfrada ou biselada e uma pedra inscrita(?).
                




Casa 5 - Em perigo de ruína, carece de classificação, protecção e intervenção. Casa que poderia ser adquirida e transformada em centro interpretativo, conforme o ponto 3 na carta em cima. Presença de sacada de quina biselada, no primeiro piso, virada ao largo. Fogueiras de Natal à sua frente, durante dias, não ajuda nada à sua conservação.




Casa 6 - Conjunto de 3 janelas de quina biselada.




Casa 7 - Restos de quinas biseladas nas ombreiras da porta da rua, que sofreu alterações na padieira, provavelmente em 1730, conforme atesta o cronograma epigrafado na mesma, juntamente com um cruciforme. Janela de emolduramento de quina biselada.
           




Casa 8 - Casa na Rua da Cal. Porta de quina biselada, no primeiro piso da casa.



   
Casa 9 - Rua da Cal. Porta de quina biselada no piso térreo.



               
Casa 10 - Em perigo de ruína, carece de classificação, protecção e intervenção. Embora seja uma casa com elementos principalmente seiscentistas, ainda possui uma porta de quina biselada, quinhentista, com acesso pela Rua da Cal. Poderia ser também uma hipótese para o centro interpretativo.



Casa 11 - Presença de emolduramento biselado no primeiro piso da casa.


                        
Casa 12 - Rua do Cimo de Vila, já perto da capela de São Pedro.



   

Casa 13 - Casa do Terreiro. Presença de uma sacada com emolduramento de quina biselada.



    

B) Arquitectura civil seiscentista. 
Casa 1 - Já referida na alínea A) como Casa 10 - Janela de moldura seiscentista.





Casa 2 - Rua do Cimo de Vila - Porta seiscentista.
 




Casa 3 - Duas portas e duas janelas seiscentistas.
 





       
Casa 4 - Fachada de casa em muito mau estado, na Travessa de Nª. Srª da Conceição. Janela seiscentista com cruciforme bastante acentuado.






Casa 5 - Casa do Terreiro (já referida na alínea A) como Casa 13) - Portal seiscentista de acesso à casa.




C) - Arquitectura civil setecentista.
Casa 1 - (Já referida nas alíneas A) e B)) - Casa do Terreiro, com capela dedicada a Nossa Senhora do Pé da Cruz, construída em 1661 e reconstruída em 1741. Fachadas contemporâneas da reconstrução da capela. Casa brasonada.



Escudo com as armas de Abranches, Lobos e Costas.

D) - Arquitectura civil oitocentista.
Casa 1 - Em perigo de ruína, carece de classificação, protecção e intervenção. Na Rua de Nª Srª da Conceição. Casa abastada com características do Séc. XIX, com uma porta que mostra um magnifico trabalho de madeira, muito ao gosto romântico.




 
E) - Arquitetura civil popular e vernacular. (são muitas casas)
 







 
 

E) - Arquitectura politica, administrativa, judicial e prisional.
1 - Pelourinho do antigo concelho de São Miguel do Outeiro. 1268 - foral concedido por D. Dinis ao couto de São Miguel do Outeiro; 1762 - criação do concelho; 1766 - data epigrafada no fuste, poderá indicar a data de edificação; 1855 - extinção do concelho; 1916 - data epigrafada no fuste e que se refere a uma intervenção; 1989 - um acidente deitou por terra o pelourinho, fragmentando o remate.
  
 

2 - Paços do antigo concelho de São Miguel do Outeiro.

3 - Antiga prisão do extinto concelho de São Miguel do Outeiro.



 
F) - Arquitectura infraestrutural.
1 - Fonte de São Miguel do Outeiro (1938)
 

G) - Arquitectura religiosa.
1 - Capela de Nossa Senhora da Conceição (1649). Campanário com relógio de sol.
                  
 
2 - Capela de São Pedro.

     
3 - Nichos da Paixão de Cristo. Via sacra ainda com muitos nichos, equivalente à que existia em Tondela e da qual já só resta o nicho do Solar do Rolo. O percurso passa na referida artéria onde se encontram 4 destes nichos..

   





Outro património de interesse  em São Miguel do Outeiro (localidade).
1 - Igreja de São Miguel. Destaca-se o arcossólio quinhentista de Pedro de Figueiredo e o conjunto de sepulturas armoriadas.
      
 2 - Fonte de Chafurdo..
 
3 - Capela do Calvário.
 
4 - Capela de São Brás.
5 - Quinta de Carvalhiços.
  
 6 - Nichos de santos e alminhas